Normais e não normais

Volto ao tema dos normais e dos não normais. Em nome da simplicidade, mesmo sob o risco de ser chamado de pouco criativo e reducionista, divido o universo dos trabalhadores em dois grandes grupos, os “normais”, e os “não normais”. Abro um parêntese para garantir que a denominação “não normais”, nada tem de negativo. Pelo contrário esse grupo congrega a nata capaz de mudar o curso da história. A ala dos “normais” é composta, na sua maioria, por empregados que seguem modelos regidos pela repetição e reprodução. Na era da criatividade, cujo atributo é destruir padrões, a normalidade é algo a se evitar. Os “normais” recebem o apoio da sociedade sob a forma de treinamento, estágios, bolsas, programas no exterior, associações profissionais, etc. Em contrapartida, na porção dos “não normais” aboletam-se aqueles cujos talentos não foram transformados em carreiras pelo modelo industrial. São os romancistas e poetas, artistas e artesãos de todas as artes e, claro, inovadores, empreendedores e rebeldes de todo tipo. Os “não normais” quase sempre são obrigados a aprender e praticar por conta própria. Os empregos para essa turma, de tão raros, não constituem alternativas cogitáveis. Os caminhos para os “não normais” são estreitos, pouco iluminados e ladeados por abismos. Os “normais” conseguem empregos mesmo sendo medíocres, enquanto somente o sucesso alforria os não normais, cuja maioria, para sobreviver, aceita bicos no mundo da normalidade e empurra a sua paixão para as horas vagas. Normais buscam o prêmio da aposentadoria, uma forma de antecipar a morte. Os não normais, como amam o que fazem, sonham em trabalhar até o ultimo suspiro de vida. A morte, para alguns deles, é um salto para a eternidade.

 

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