Cabo Verde

Das minhas incursões em geografia na escola primária, ficou a imagem de alguns pontinhos perdidos no Oceano Atlântico que no mapa representavam o Arquipélago de Cabo Verde, àquela época ainda colônia de Portugal. Quem vivia ali? Quem visitava as ilhas? O mistério e a fantasia se adensaram quando fiquei sabendo que o lendário corsário  “Sir Francis Drake” e o pesquisador Charles Darwin ali estiveram à busca de tesouros diferentes. O enfadonho dever de casa que me obrigava decorar os nomes dos afluentes das margens esquerda e direita do rio Amazonas, tinha que esperar a minha volta das expedições imaginárias àquelas partículas perdidas no meio do mar. Mês passado os devaneios da criança se tornaram realidade. Convidado como consultor do Ministério de de Educação de Cabo Verde, pude ver, com a aproximação do avião, aqueles minúsculos pontos se transformando gradativamente em uma imensidão de sol e encantamento. A sobrevivência nas ilhas de Cabo Verde não é simples. Diminuta área agriculturável, escassez de água e de fontes de energia transformaram a história de Cabo Verde numa sucessão de emigrações e repovoamentos. Hoje existem mais caboverdianos vivendo fora do pais  do que nas ilhas. A diáspora secular é, no entanto, benéfica e ao mesmo tempo, poética, pois as remessas financeiras feitas pelos emigrados impedem que Cabo Verde esteja entre os países africanos mais pobres. O lado poético da diáspora forjou, naquele povo, a percepção de que o território de sua pátria é todo o planeta. Sem riquezas naturais além da beleza, aqueles dez pontinhos no Atlantico apostam no empreendedorismo para criar uma imensa dimensão de paz e prosperidade. Enquanto isso o gigante Brasil, abençoado por Deus, se esforça para tornar-se um ponto insignificante no mapa do desenvolvimento humano.

Um abraço do Fernando Dolabela.

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