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Qual o papel da autoajuda nas empresas? As corporações não se contentam em cobrar dedicação e eficiência dos empregados. Elas querem que eles vistam a camisa, ou, em outras palavras, entreguem a sua alma. Ao fazer isso os empregados abrem mão dos últimos resquícios de sua autenticidade. Pesquisas mundiais mostram que é assustadora a quantidade de empregados com insegurança e depressão no trabalho em virtude dos rígidos sistemas de comando e controle usados para aumentar a produtividade. A formula do emprego consagrada na revolução industrial, em que o individuo aluga o seu tempo, tem duas faces: é um grande sucesso em termos de produtividade e um arrematado fracasso no que diz respeito à felicidade humana. Para melhorar o astral, os departamentos de RH, que não passam de um pára-choque inútil, recorrem equivocadamente à autoajuda, cuja metodologia estimula a individualidade, jogando nos ombros das pessoas a responsabilidade da busca do seu sucesso. Como em grande parte a causa está no ambiente e não no indivíduo, a autoajuda é inócua. Se o objetivo é estimular a inovação, as hierarquias em que chefes podem punir ou promover devem ser varridas das empresas. Nos últimos duzentos anos os empregados recebem diferentes classificações. Os economistas os consideram um fator de produção, como terra e capital; os administradores os vêem como recursos humanos comparáveis a petróleo ou carvão e os contadores os consideram custos. Aliás, os primeiros a serem cortados. Na contabilidade das empresas ainda não existe a rubrica “seres humanos”.
Fernando Dolabela