O norte está na emoção

O avô foi buscar o neto de 12 anos na escola. Era um final de tarde. Ele desceu do carro e pousou as duas mãos no alambrado do campo onde o neto jogava futebol. Ao final, o neto lhe disse: vovô, esses são os meus melhores amigos. Será que nos esqueceremos uns dos outros ao longo da vida? O avô perdeu o olhar no campo de futebol; o verde tornou-se um prado infinito. Ele se perguntou onde estariam os próprios amigos feitos quando ele tinha a idade do neto. Por que será que mesmo distantes eles habitavam a sua memória e faziam o seu coração sorrir? Talvez porque a amizade adolescente não tivesse sido maculada por interesses adultos. Sentia que aqueles amigos faziam parte do mosaico do seu próprio eu, ainda indecifrado. Por meio deles o avô descobriu que houve um tempo em que o seu futuro, de tão leve, era o presente. E que o passado, de tão curto, era leve. A emoção que emanava daquelas lembranças talvez fosse a prova das primeiras sensações de liberdade, das primeiras escolhas. Tudo foi muito simples, pensou o avô: estávamos lá e aproveitamos a mágica do convívio. Sim, ele murmurou, eles possuem o melhor de mim.

Olhou para o neto e respondeu:

– Quando você alcançar a idade que nos faz ver que só a emoção nos indica o norte, entenderá que boa parte de suas raízes estão fincadas na relva infinita deste campo de futebol.

Um abraço do FD.

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