Empreender é a arte de simplificar. Diante de algo complicado os norte-americanos dizem KISS, Keep it simple, stupid. A simplicidade conecta artes e empreendedorismo. Por exemplo, alguém já disse que escrever é a arte de cortar palavras. Em uma crônica deliciosa o saudoso jornalista Armando Nogueira dá um exemplo de como a arte de cortar palavras é eficaz na literatura e no empreendedorismo. Ele cita um conto do escritor inglês John Ruskin. Abre aspas: “Para atrair clientes, um feirante de peixes num porto inglês escreveu em um quadro negro a mensagem: HOJE VENDO PEIXE FRESCO. Em seguida perguntou ao seu compadre que entrava na loja: “você gostou, acrescentaria mais alguma coisa ao que escrevi?” O compadre releu o anúncio e questionou: você já notou que todo dia é sempre hoje? Você pode cortar a palavra HOJE. O feirante aceitou a ponderação: apagou o advérbio. O anúncio ficou mais enxuto. VENDO PEIXE FRESCO. O compadre continuou. “Aqui nesta feira ninguém dá peixe de graça, todo mundo sabe disso. Acho desnecessário o verbo”. O anúncio encurtou mais ainda: PEIXE FRESCO. Olhando o que restava da mensagem, PEIXE FRESCO, o compadre disse:” por que dizer que o peixe é fresco? O que traz o freguês a uma feira no cais do porto é a certeza de que todo peixe aqui é fresco. Não há no mundo uma feira livre que venda peixe congelado”. E lá se foi também o adjetivo. Restou no anúncio a uma singela palavra: PEIXE. Mas, por pouco tempo. O compadre ponderou ser menosprezo à inteligência da clientela anunciar, em letras garrafais, que o produto ali exposto era peixe. Afinal, estava na cara e no cheiro. O substantivo foi apagado. O anúncio sumiu. O quadro-negro também. O feirante vendeu tudo. Não sobrou nem a sardinha do gato. Tanto artistas como empreendedores são inovadores radicais. A diferença é que artistas podem trafegar no abstrato enquanto empreendedores precisam da concretude para agir.
Um abraço do Fernando Dolabela